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PartoHumanizado

Parto humanizado

Você sabe o que significa?

Confira a seguir os princípios e as vantagens da humanização do parto

Dia 10 de junho de 2016 foi talvez o dia mais importante da vida de Aline Pereira. Com 38 semanas de gestação, sua bolsa estourou à meia-noite. O trabalho de parto havia começado. E seria bem diferente da experiência que a maioria das mulheres costuma vivenciar. Aline foi monitorada à distância desde o início do processo de parto pela enfermeira obstetra Beatriz Basile Kesselring e pelo médico obstetra Gustavo Luiz F. Kesselring, que assistiram seu pré-natal. Pela manhã, Aline sentiu as contrações em sua casa acompanhada por Beatriz. Conversas e banhos quentes no chuveiro aliviavam as dores.

Quando chegou o momento, dirigiu-se ao hospital e lá foi recebida pela equipe de seu obstetra em uma sala com uma banheira, onde permaneceu por uma hora ao lado da enfermeira obstetra. Por sua escolha – e não por influência dos profissionais ou para ser cumprida alguma espécie de protocolo hospitalar –, recebeu analgesia somente no final do trabalho de parto. Durante o processo, colheradas de mel para ter mais força para o parto. Depois, exercícios na bola suíça e sacudidas com Rebozo (um tecido específico para este uso) estimularam a descida do bebê. De cócoras e com o obstetra sentado no chão à sua frente, Aline contou com o apoio de toda a equipe. Após 20 horas, nascia Manuela.

A história acima retrata um parto humanizado. Tema cada vez mais comum entre as mulheres, o procedimento tem atraído a atenção das gestantes por apresentar-se como uma alternativa segura e vantajosa para a mãe e para o bebê. A expressão popularizou-se e pode ser encontrada com frequência na literatura científica, nos veículos jornalísticos e até mesmo nas mídias digitais.

O que é

Segundo a chefe do Departamento de Saúde Materno-Infantil da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), Simone Diniz, “os dois pilares mais importantes do parto humanizado são a garantia dos direitos humanos das mulheres – como o direito à autonomia e à integridade física – e o uso da medicina baseada em evidências”. Uma das traduções para este segundo conceito seria a prática médica que orienta suas decisões por resultados científicos e de maneira individualizada.

A definição de parto humanizado também pode ser subjetiva. Mestre em Enfermagem pela Escola de Enfermagem da USP e coordenadora do Núcleo Cuidar, Beatriz compreende que o respeito à fisiologia do parto e ao desejo da mulher são os princípios da humanização do nascimento.

Aline relata ter se sentido a personagem principal de seu parto:

“fiz o que eu queria fazer, foi da minha forma. A toda hora perguntavam como eu preferia, os lugares onde eu queria estar, as posições em que eu me sentia bem… Fiquei muito à vontade. Eu tive de cócoras, porque para mim estava confortável. O obstetra agachou e ficou ali até minha filha nascer. E a analgesia foi uma escolha minha”.

Aline, sua filha Manuela Pereira e seu marido, pai da menina, Marcelo Beillo, logo após o parto. Aline recebeu a filha assim que ela nasceu e Marcelo acompanhou o trabalho de parto.


Aline, sua filha Manuela Pereira e seu marido, pai da menina, Marcelo Beillo, logo após o parto. Aline recebeu a filha assim que ela nasceu e Marcelo acompanhou o trabalho de parto.

O protagonismo da gestante começa na hora de decidir como será o nascimento. “Um parto humanizado é aquele que respeita a escolha da mulher. Então, a condição fundamental para que esta experiência aconteça é que a mulher busque por ela mesma esta opção. Os resultados da humanização do parto são muito maiores quando a escolha parte de um questionamento da mulher e de uma identificação intuitiva com esta forma de parto”, observa Beatriz.

Mãe de primeira viagem e nascida por cesárea, Aline conta que, inicialmente, chegou ao consultório de seu médico determinada a fazer um parto cirúrgico: “eu achava mais seguro fazer cesárea do que parto normal”. Esta visão mudou após o parto humanizado. “No dia seguinte, já estava me sentindo ótima”, comenta Aline. A opção pelo procedimento foi feita a partir de conversas com o obstetra, que desmistificou a imagem deste modo de parir ao descrever as condições em que é realizado e as vantagens para a mulher e para a criança.

 

Benefícios da humanização

Para Aline, a maior vantagem do parto humanizado foi o acolhimento: “desde o pré-natal fui acompanhada de perto, pude tirar dúvidas sempre que precisei e senti que a equipe buscava me confortar. Os cuidados continuaram no nascimento e foram essenciais para que eu conseguisse ter um parto normal”.

Beatriz cita alguns dos benefícios da humanização do parto: “o primeiro deles é que a mulher pode assumir o protagonismo do processo; o parto é dela, a equipe só presta assistência. Durante o trabalho de parto, a gestante escolhe a posição mais confortável para ela e não para os profissionais que estão ao seu serviço. A fisiologia do nascimento é respeitada, havendo liberação de hormônios naturais”.

E as vantagens não se encerram na mulher. O bebê também é privilegiado com a humanização do parto. Quando ele atravessa o canal vaginal, há uma compressão da caixa torácica e, desta forma, o líquido amniótico presente em seus pulmões é expelido naturalmente, abrindo espaço para entrada de oxigênio. A exposição da pele do recém-nascido à flora vaginal reforça a imunidade do bebê, além de permitir que ele receba os estímulos do corpo da mãe. Outra vantagem diz respeito à amamentação: “a ocitocina produzida durante o parto aumenta o sucesso do aleitamento. No parto humanizado, a criança vai direto para o colo da mãe, recebendo o colostro [leite secretado nos primeiros dias de amamentação] na primeira hora de vida”, explica o obstetra Gustavo.

Pronta para tentar?

“No começo, como foi minha primeira filha, fiquei com medo de ter um parto humanizado. Não sabia muito bem o que era. Para mim, neste parto não havia uma estrutura, com equipe presente e recursos à disposição. Via como um parto numa banheira. Depois da minha experiência, já indiquei a alternativa para várias amigas”, compartilha Aline.

À primeira vista, a humanização do parto pode gerar dúvidas e insegurança, como qualquer situação em que somos incitadas a assumir o controle ou em que nos deparamos com alguma forma de liberdade. Mas, depois de todas essas informações, você já deve ter percebido que vale a pena conhecer melhor o tema, não é? Uma boa opção para começar é assistir ao documentário O Renascimento do Parto. Dirigido por Eduardo Chauvet, o filme questiona o modelo obstétrico convencional, denuncia casos de violência e reflete sobre as consequências das intervenções em partos.

Confira abaixo o trailer do longa:

Para leitura, a cartilha sobre humanização do parto elaborada pelo Ministério Público do Pernambuco organiza informações a respeito do assunto de maneira objetiva. Se a ideia for buscar conteúdo mais técnico, indicam-se o Programa Humanização do Parto , desenvolvido pelo Ministério da Saúde, e o documento da Organização Mundial da Saúde (OMS) com as recomendações para parto normal (apenas versões em idiomas estrangeiros). Quer se prevenir de injustiças? O Guia dos Direitos da Gestante e do Bebê , produzido pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), pode ajudar. E, para todos os casos, o site  da Rede pela Humanização do Parto e Nascimento (ReHuNa) é uma boa pedida. Nele, é possível acompanhar notícias sobre novidades e eventos relacionados a parto humanizado e violência obstétrica.

 

 

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